sexta-feira, 13 de março de 2009

CONHECIMENTO APLICADO! (Parte I)


“Quem precisa de teologia?”. Penso que percorrer um pouco mais sobre este assunto será valioso, visto ser relevante vermos que é possível atrelarmos o conhecimento à prática.

Por esta razão, antes de iniciar a subida de nossa montanha, precisamos parar e fazer a nós mesmos uma pergunta fundamental – pergunta que, na verdade, devemos fazer sempre que nos dispusermos a estudar qualquer assunto na Palavra de Deus. Essa questão diz respeito a nossos motivos e intenções como estudantes. É preciso indagar de nós mesmos: Qual o alvo final e a razão de eu estar ocupando a mente com estas coisas? Que pretendo fazer com o conhecimento de Deus que vou adquirir? Pois o fato que teremos de enfrentar é este: A busca por conhecimento teológico como um fim em si mesmo talvez nos prejudique, tornando-nos orgulhosos e convencidos. A própria magnitude do assunto nos embriagará e chegaremos a pensar que somos bem melhores e superiores aos demais cristãos dado nosso interesse no assunto e a compreensão dele. Olharemos com superioridade para aqueles cujas idéias teológicas nos pareçam rudes e inadequadas, pondo-as de lado com desprezo. Isso se conforma às palavras de Paulo aos presunçosos cristãos de Corinto: "O conhecimento traz orgulho [...] Quem pensa conhecer alguma coisa ainda não conhece como deveria" (1Co 8.1 b,2).

Preocupar-se em adquirir conhecimento teológico como um fim em si mesmo, aproximar-se da Bíblia para estudá-la sem nenhum motivo além do desejo de saber todas as respostas é o caminho direto para o auto-engano complacente. Precisamos proteger o coração contra essa atitude e orar para que isso não aconteça.

Como já vimos antes, não pode haver saúde espiritual sem conhecer a doutrina, mas é igualmente verdadeiro que ela não será alcançada com esse conhecimento, se for buscado com propósitos errados e avaliado segundo padrões falsos. Deste modo o estudo da doutrina pode se tornar um perigo para a vida espiritual; e nós hoje precisamos estar atentos a esse respeito, tanto quanto os antigos coríntios.

"Mas", diz alguém, "não é um fato que o amor à verdade revelada de Deus e o desejo de saber o máximo sobre isso é normal em toda pessoa que tenha nascido de novo?". Veja o salmo 119: "Ensina-me os teus decretos", "Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei", "Como eu amo a tua lei!", "Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais que o mel para a minha boca!", "dá-me discernimento para compreender os teus testemunhos" (v. 12b, 18,97a ,103,125).

Não é verdade que, assim como o salmista, todo filho de Deus quer conhecer o máximo possível a respeito de seu Pai Celestial? Não é, na verdade, o fato de termos recebido "o amor à verdade" uma prova de que nascemos de novo? (v. 2Ts 2:10). E também não é justo que procuremos satisfazer ao máximo esse desejo dado pelo próprio Deus?

Sim, naturalmente que sim. Mas se você se reportar ao salmo 119 verá que o interesse do salmista em obter conhecimento de Deus não era teórico, mas prático. Seu desejo supremo era conhecer e comprazer-se no próprio Deus, e considerava esse conhecimento de Deus um simples meio para alcançar um fim. Ele queria entender a verdade divina a fim de que seu coração pudesse corresponder a essa verdade e viver de acordo com aa. Observe a ênfase dada nos primeiros versículos:
  1. "Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do Senhor! Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam! [...] Quem dera fossem firmados os meus caminhos na obediência aos teus decretos" (v. 1,2,5).
Ele estava interessado na verdade e na ortodoxia, nos ensinamentos bíblicos e teológicos não como um fim em si mesmos, mas como meios práticos de aperfeiçoamento da vida e de santidade. Sua preocupação maior estava em conhecer e servir o grande Deus, cuja verdade procurava entender.Esta deve ser também nossa atitude. Ao estudar a divindade, nosso alvo deve ser conhecer melhor ao próprio Deus. Nosso objetivo deve ser expandir nosso conhecimento não apenas da doutrina dos atributos de Deus, mas também do Deus vivo a quem pertencem esses atributos. Já que ele é o tema de nosso estudo e nosso ajudador nesta tarefa, deve ser também o fim em si mesmo. Ao estudarmos Deus, devemos procurar ser conduzidos a ele. A revelação nos foi dada com esse propósito, e devemos usá-la com essa finalidade.
Dr. Ricardo Reis
Reitor da FEB

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